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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Texto da Semana 
Dra Ana Paula Moschione Castro



 E então vamos dessensibilizar?

 Uma vez estabelecido o diagnóstico de AA se inicia uma nova vida focada nas restrições, nas opções e nas possibilidades de integração da criança ou do adulto nas atividades diárias, sem os riscos de um escape seguido de uma reação. Não se trata de tarefa fácil, muitas vezes há algum grau de angústia e muitos desafios a serem vencidos. Neste contexto, sempre se pergunte: o que mais pode ser feito? 

Há cerca de 10 anos ganhou força novamente a possibilidade de indução de tolerância, ou seja, tentar mudar a resposta imunológica da criança fazendo com que o alimento possa ser aceito sem reação. Este objetivo pode ser alcançado através de uma cuidadosa e calculada oferta do alimento em porções conhecidas e sempre sob observação médica. Há diferenças entre induzir tolerância ou dessensiblizar, mas é importante saber que este tratamento apresenta indicações, contra-indicações e efeitos indesejados.

Quais são as principais indicações, os melhores candidatos? Os candidatos a este procedimento são exatamente as crianças que mostram sinais que não vão apresentar melhora espontânea da alergia alimentar. São aquelas crianças que após os cinco anos de idade ainda apresentam exames elevados de alergia, reações graves a quantidades mínimas do alimento ou mesmo um grande comprometimento da qualidade de vida como a reclusão social. É claro que cada caso pode e deve ser avaliado individualmente e, acima de tudo, a parceria com os pais e paciente é fundamental. É importante considerar o mecanismo de desenvolvimento de alergia, sendo mais recomendado em pacientes com alergias IgE mediadas (aquelas que os exames específicos de alergia são positivos).

Como é o processo? Ele é baseado na ingestão crescente e calculada de proteína alimentar, na sua maior parte do leite de vaca, mas também pode ser feito com ovo e trigo e mais para frente talvez o amendoim e as castanhas também possam ser avaliados. 

Todo este processo é feito sob supervisão médica e as mudanças de dose devem ser realizadas sempre  em ambiente preparado para controlar as reações. Há muitas possibilidades de esquemas, portanto ele deve ser discutido de maneira individual. Existe a possibilidade de oferta do alimento em sua forma processada, mas uma vez mais, de maneira controlada. O processamento do alimento pode diminuir a alergenicidade do mesmo e isto tem sido observado especialmente nos casos de alergia a ovo e leite.   É interessante que o processamento e a mistura do alimento em questão em uma preparação pode torná-lo mais tolerável pelo organismo. Precisa ser ressaltado que quando se considera este alimento, as principais preparações avaliadas são bolos ou bolachas.

Quais são os possíveis desfechos? Quando se inicia um tratamento como este,  podem acontecer quatro coisas:

·      A criança não consegue tolerar quantidades mínimas diluídas e nem se consegue iniciar adequadamente o tratamento. Este é um cenário bastante raro na minha experiência

·      A criança tolera quantidades significativas de leite, mas ainda inferiores a uma porção normal ( um copo de leite ou um ovo, por exemplo). Neste caso a ingestão do alimento deve ser mantida na máxima dose diária aceita, por exemplo 20 ml, o que garante uma proteção contra escapes involuntários como alimentos contaminados.

·      Nesta terceira possibilidade a dessensibilização é bem sucedida e o paciente ingere diariamente um mínimo de 150 a 200 ml de leite, por exemplo. Com esta aceitação é possível ingerir outros alimentos contendo esta proteína. Estar dessensibilzado, neste contexto, significa a obrigação da ingestão diária de  alimentos. Este tem sido o resultado mais frequente nesta fase da dessensibilização

·       A quarta possibilidade é o desenvolvimento de tolerância. Esta situação é definida quando após um tempo de ingestão diária obrigatória, há um período de exclusão da proteína e após a reintrodução não há reações. Embora este seja o objetivo ideal, a definição de quanto tempo é necessário de ingestão diária  ainda não está bem estabelecida, embora pareça ser prolongado, alguns anos 
Para quem ainda não serve muito? Crianças muito pequenas, pois precisamos do retorno e informações da criança. Isto ajuda a detectar mais precocemente uma reação, além disto há uma grande chance de desenvolvimento de tolerância natural. Crianças que tem sintomas que não são dependentes de IgE também parecem não se beneficiar tanto deste tratamento;

Quais as possibilidades de reação? O tratamento sempre é feito sob estreita supervisão médica e reações alérgicas podem ocorrer, por isso é muito importante esta parceria entre médico e paciente para o pronto tratamento e resolução. . Ao longo do processo, a minoria dos pacientes pode desenvolver complicações no aparelho digestivo que devem ser diagnosticadas e tratadas

Sim, a dessensibilização pode ser uma realidade, uma escolha que deve ser feita em uma franca conversa entre médico, paciente e família. A época mais apropriada e a maneira ideal de realizá-la ainda precisa ser melhor definida e há muitos bons médicos e centros de referência em alergia alimentar avaliando o protocolo  mais adequado para garantir segurança e os  melhores resultados possíveis

6 comentários :

  1. Ótimo texto. Muito esclarecedor. Essa dessensibilização do leite inclui a caseína?
    O meu filho é alérgico ao leite, caseína, ovo e soja e hoje tem 2 anos e 6 meses. Por enquanto os exames de Ige só aumentam, e há uma ano atrás ele tolerava traços e bolachas com leite/ovo, porém sob orientação médica, retirei tudo e tomo o maior cuidado com traços, mas parece que ele está cada vez pior. Será que um dia será possível a dessensibilização?
    Grata. Patrícia Vieira da Silva.

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    1. Prezada Pratrícia tentaremos contato com a Dra Ana ou com a Dra Roseli Sarni especialistas na área para tentar te ajudar com sua dúvida. Aguarde uns dias que em breve responderemos.

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  2. Como conseguir esse tratamento? Sou de Itaquaquecetuba, a UBS da cidade não encaminha para especialistas do SUS e o particular me confunde porquê não tem consenso. Meu filho tem o Ige total para leite de 530 mcg e quase oito anos. Fazemos a dieta desde sempre e ele ainda reage quando há deslizes (a família não colabora muito): podem me orientar? Grata!

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    1. Pessoal. Todos mundo que está fazendo perguntas iremos encaminhar as mesmas para a Dra Ana na quinta-feira e em breve responderemos

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  3. Ola! Tenho uma filha de 3,5 anos com APLV e alergia a soja. Estamos em dieta restritiva desde o primeiro ano de vida. Ela ee saudável mas o convívio social está sendo prejudicado devido a condição. Será q podemos entrar em contato com vcs para tentarmos um encaminhamento à cura?! Por gentileza me retorne. Desde já muito obrigada pelo texto. Esclarecedor:)
    (priscillaleite@hotmail.com)

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    1. Pessoal. Todos mundo que está fazendo perguntas iremos encaminhar as mesmas para a Dra Ana na quinta-feira e em breve responderemos

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